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Dividendos: Mitos, fatos e o poder dos juros compostos

por | 29/09/24 | 0 Comentários

Introdução:

Os dividendos são uma estratégia de investimento com uma longa história e eficácia comprovada. No entanto, eles ainda geram controvérsias e são subestimados por certos segmentos do mercado. Como resultado, muitos novos investidores acabam sendo influenciados por essa visão e acreditam, erroneamente, que dividendos não têm valor.

Neste artigo, exploro mitos e fatos que destacam a importância dos dividendos como uma fonte de renda e indicativo da saúde financeira das empresas.

Dividend yield elevado é sempre bom

Um equívoco comum sobre ações que pagam dividendos é que uma ação com alto dividend yield é sempre um bom investimento. Muitos investidores escolhem ações com os maiores dividendos, mas isso pode ser arriscado e, em muitos casos, revelar-se um péssimo investimento ao longo do tempo.

É importante que o investidor entenda por que uma empresa tem um dividend yield elevado e se ela pode sustentá-lo sem comprometer suas finanças. Um exemplo é a Taesa, queridinha de muitos investidores. Os proventos distribuídos pela empresa nos últimos anos incluíram eventos não recorrentes, o que torna essencial avaliar sua geração de caixa futura para entender sua real capacidade de continuar pagando os atuais patamares de dividendos.

Dividendos saem de um bolso e entram no outro…

Os dividendos envolvem muito mais do que apenas a transferência de dinheiro do caixa da empresa para o bolso do acionista.

Quando uma empresa paga dividendos, o valor distribuído é de fato retirado do preço da ação. No entanto, a importância dos dividendos vai além do pagamento em si. Investidores que menosprezam os dividendos ainda não entenderam seu valor. A longo prazo, os dividendos refletem a capacidade da empresa em gerar valor contínuo para os acionistas.

Se uma empresa paga dividendos, é porque gerou dinheiro excedente em suas operações já levando em consideração o reinvestimento no negócio. Isso naturalmente pode levar o investidor a questionar se não é melhor a empresa reinvestir toda a grana de volta no negócio ao invés de distribuir. Na realidade nem sempre isso é verdade, e a empresa pode optar por distribuir proventos se entender que o retorno gerado ao acionista é mais vantajoso do que reinvestir em determinado projeto.

Para facilitar o entendimento observe o gráfico abaixo sobre o desempenho das ações de Taesa desde 2007:

Fonte: Bloomberg

Na linha vermelha temos a evolução do preço da ação sem dividendos e na linha verde o retorno com dividendos. Note que no início não há tanta diferença. Mas a medida que o tempo passa e o efeito bola de neve dos juros compostos começam a surtir, abre uma grande diferença entre a rentabilidade com e sem reinvestimento dos dividendos.

Para finalizar este bloco e não exaurir com muitos exemplos, veja o gráfico abaixo:

Fonte: Geraldo Burigo, Economática

Em azul temos o IDIV que é um índice criado em 2005 de empresas boas pagadoras de dividendos. Em vermelho temos o IBRx que é o índice das 100 ações mais negociadas e líquidas da bolsa, e em verde temos o IBOV que é o índice mais popular do nosso mercado.

Desde sua criação em 2005, o IDIV acumulou um retorno de 707%, enquanto o IBRX apresentou 367% e o IBOV 254%. A diferença é clara: o índice focado em dividendos superou amplamente o principal índice da bolsa brasileira, com quase três vezes mais retorno.

Curiosidades: (i) o IDIV apresentou maior consistência e retorno médio anual (14,25%) em comparação com o IBRX (10,72%) e o IBOV (9,23%). Apesar de ter performado abaixo dos outros índices em momentos de crise, como em 2015, ele se destacou com uma forte recuperação em 2016, quase dobrando o valor investido em 12 meses, e (ii) O IDIV superou o CDI com folga, tendo o CDI performado 410% bruto no período.

Ações de dividendos são sempre seguras

Empresas que pagam dividendos elevados de forma consistente são frequentemente consideradas investimentos seguros, geralmente representando companhias consolidadas e de grande valor, como Itaú, BB Seguridade e Vivo, que são amplamente vistas como exemplos de estabilidade no mercado.

No entanto, o pagamento de dividendos não garante um investimento seguro. A administração pode usar os dividendos para acalmar investidores frustrados quando as ações não estão subindo. Para evitar este tipo de armadilha, é crucial compreender como a administração utiliza os dividendos em sua estratégia corporativa.

Dividendos usados como prêmio de consolação pela falta de crescimento são quase sempre uma má ideia. Em 2008, o dividend yield de muitas ações foram artificialmente elevados devido à queda dos preços das ações. À medida que a crise financeira se aprofundou e os lucros despencaram, muitos programas de dividendos foram cortados, causando quedas nas ações, especialmente entre os bancos.

O poder dos dividendos e os juros compostos:

Os dividendos desempenharam um papel significativo nos retornos que os investidores receberam durante as últimas décadas. Voltando a 1960, 85% do retorno total acumulado do Índice S&P 500 (bolsa de Nova York) pode ser atribuído aos dividendos reinvestidos e ao poder dos juros compostos, como ilustrado na figura abaixo:

O gráfico mostra um investimento no S&P 500 de US$ 10.000 em 1960, com a linha cinza indicando o resultado sem reinvestimento de dividendos e a linha azul mostrando o resultado com reinvestimento. O retorno com reinvestimentos é 6,42 vezes maior do que o investimento sem dividendos ao longo do período. O poder dos juros compostos neste caso é simplesmente impressionante.

Yield on cost

O yield on cost (YOC) é uma métrica que calcula o retorno sobre dividendos com base no valor originalmente pago por uma ação. Por exemplo, se um investidor comprou uma ação há cinco anos por R$ 20 e seu dividendo atual é de R$ 1,50 por ação, então o YOC para essa ação é de 7,5%.

Essa é uma medida frequentemente negligenciada pelos investidores que tendem a se apegar ao dividend yield atual. Abaixo um exmplo com a WEG que ajuda a compreender melhor a importância do yield on cost. Vamos supor que você tenha comprado R$ 10.000,00 ao preço de R$ 8,30 o papel da empresa no último pregão de 2018. Isso equivale a aproximadamente 1.205 ações.

Observando o recorte de 2019 a 2023, fica claro que o dividend yield da Weg é baixo, especialmente para os padrões nacionais. Entretanto, devido ao crescimento de 334% do lucro no período e do crescimento de proventos por ação de 81%, o retorno com dividendos sobre o valor pago (YOC) é de 5,3% (ajustado pela inflação), versus um yield corrente de 1,6%.

O ponto importante a ser destacado é que o investidor pode deixar passar boas oportunidades pelo simples fato de se prender ao dividend yield, deixando passar oportunidades de empresas que estão constantemente crescendo seus lucros e repartindo proventos cada vez maiores com os seus acionistas.

Não são raros os casos de investidores de longo prazo que possuem “Yields On Cost” de mais de 100% sobre o preço pago por algumas de suas ações, como é o caso de Buffet com inúmeros papéis que ele possui em carteira há décadas.

O que são dividendos e o que eles sinalizam:

Lembre-se: os dividendos são uma parte do lucro distribuído pela empresa aos acionistas, representando uma remuneração direcionada aos investidores. Além disso, os dividendos sinalizam diversos aspectos cruciais sobre a empresa, tais como:

Rentabilidade: Os dividendos expressam a rentabilidade da companhia, sendo um indicativo claro de que suas operações são lucrativas e capazes de gerar retornos para os acionistas.

Confiança: O pagamento recorrente de dividendos demonstra a confiança da empresa em sua capacidade de gerar fluxo de caixa futuro e manter uma política financeira estável.

Estabilidade: Empresas que pagam dividendos consistentemente ao longo do tempo são consideradas mais estáveis financeiramente, pois demonstram uma gestão cautelosa e resiliente.

Comprometimento: O pagamento regular de dividendos estabelece um compromisso da empresa com seus acionistas, reconhecendo sua importância para o sucesso da companhia.

O rendimento dos dividendos oferece um retorno em dinheiro a curto prazo, enquanto o investidor espera que o mercado perceba o potencial de crescimento da empresa. É uma forma mais segura de obter ganhos do que depender exclusivamente do aumento futuro dos lucros, que pode ser incerto. Além disso, dividendos quase nunca são cortados, e empresas sólidas têm boas chances de aumentar seus lucros com o tempo.

Concluindo

Investir em empresas que pagam dividendos é uma estratégia sólida e comprovada, utilizada por grandes investidores ao longo do tempo.

Nomes como Warren Buffett, Luiz Barsi e outros grandes investidores comprovam a eficácia de uma estratégia focada em dividendos. Esses investidores construíram suas fortunas com uma abordagem simples e disciplinada, mantendo o foco em empresas com modelos de negócios simples, compreesíveis e resilientes aliados a capacidade de gerar fluxo de caixa consistente. Eles entendem que o tempo e os juros compostos trabalham a favor de quem investe em boas empresas pagadoras de dividendos, garantindo retornos crescentes ao longo dos anos.

Em resumo, investir em dividendos é uma estratégia simples, que exige paciência e visão de longo prazo, mas que pode gerar resultados extraordinários, especialmente quando combinado com o poder dos juros compostos.

Resumo

Dividend Yield elevado nem sempre é vantajoso: Um alto dividend yield pode parecer atrativo, mas é essencial entender sua sustentabilidade a longo prazo, evitando armadilhas de empresas com resultados não recorrentes.

Dividendos representam mais que pagamentos: Eles sinalizam a capacidade da empresa de gerar valor contínuo para os acionistas, refletindo tanto a saúde financeira quanto a estratégia de alocação de capital.

O poder dos juros compostos: Reinvestir dividendos ao longo do tempo pode gerar retornos exponenciais, superando os ganhos obtidos sem reinvestimentos.

Yield on cost: Investidores que focam apenas no dividend yield atual podem perder boas oportunidades; o YOC revela o impacto do tempo e do crescimento dos dividendos no retorno real.

Dividendos não garantem segurança: Empresas podem usar dividendos para acalmar acionistas em vez de focar no crescimento sustentável, tornando fundamental a análise da estratégia de distribuição.

Grandes investidores comprovam a eficácia: Warren Buffett, Luiz Barsi e outros grandes investidores acumularam fortunas investindo em empresas pagadoras de dividendos, utilizando uma abordagem disciplinada e de longo prazo.

(Todas as empresas mencionadas neste artigo são utilizadas com propósito educacional, não havendo nenhuma recomendação direta, indireta ou intencional de compra ou venda de papéis)

Bernardo Abreu

Meu nome é Bernardo Abreu, sou formado em Administração de Empresas, com MBA em Finanças Executivas pelo IBMEC e pós-graduado na Wharton University da Pennsylvania em Serviços financeiros e tecnologia. Possuo experiência internacional em multinacionais, com atuação na gestão financeira de empresas do mercado Financeiro, infraestrutura e em meios de pagamentos.

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