O mercado de ações ainda é encarado com muito receio pela maioria dos brasileiros que o enxergam como muito arriscado ou até mesmo uma espécie de cassino.
Um dos principais motivos pelos quais vale a pena considerar investir em ações é a possibilidade de se tornar sócio das maiores empresas do país e do mundo, obtendo os benefícios de participar do resultado da economia real.
Toda empresa possui como objetivo obter lucros através de suas operações para que seja possível não apenas remunerar de volta os seus acionistas (via ganho de capitais e dividendos) como também reinvestir na própria empresa para garantir a manutenção e expansão de seus negócios.
Algumas trajetórias de sucesso
Se pararmos para pensar em algumas das maiores empresas nacionais ou estrangeiras, como por exemplo, Itaú, Ambev e Apple, apenas para ficar em alguns nomes, o que esses grupos possuem em comum? Vamos falar um pouco sobre estas três empresas:
Para quem não sabe, a história da Ambev (Abev3) começa no fim do século 19, ano 1888, quando as cervejarias Brahma e Antártica nasceram. Elas atravessaram nestes mais de 130 anos, os mais diversos cenários políticos e econômicos que o Brasil e o mundo enfrentaram, demonstrando alta capacidade de gestão, geração de lucros e valor aos seus acionistas, passando ilesa por todos os altos e baixos do século 19, 20 e 21 até aqui. Em 1999 as duas se uniram para criar a Ambev, que por sua vez se juntou a belga Interbrew em 2004 formando a maior cervejaria do mundo. Em 2009 a Inbev se juntou com a americana Anheuser-Busch e formou a AB Inbev. Segue abaixo o resumo da performance da Ambev neste início de século:
O gráfico representa a evolução dos lucros (em verde) e o preço da ação (em azul) de 03/01/2000 a 30/12/2024. As barras destacadas em cinza representam as principais crises globais e internas ocorridas durante o período. Pontos a destacar:
- No longo prazo, preço da ação e lucro da empresa tendem a evoluir no mesmo sentido. Se a empresa apresenta lucros crescentes, o preço da ação se valoriza com o tempo, o contrário também é verdadeiro, em empresas com lucros decrescentes, as ações se desvalorizam com o tempo. Existem momentos em que a ação e o lucro podem estar em direções opostas, mas com o tempo isso se ajusta.
- As principais crises econômicas do período foram destacadas na imagem para exemplificar que estes eventos acabaram tendo pouca influência na performance (lucro) da Ambev no longo prazo, uma vez que tanto na crise do subprime quanto na recessão brasileira a cervejaria manteve a trajetória ascendente dos lucros.
- Em 2000 as ações da Ambev estavam cotadas a R$0,51. Em 30/12/2024 as ações eram negociadas a R$11,82. A ação da Ambev nestas datas obteve uma valorização no período de 2.598%. Por exemplo, quem investiu R$ 1.000 em 2000 e manteve o investimento, acordou no fim de 2024 com R$ 26.980, o que equivale a um retorno médio anual de 14,09%. Considerando o dividend yield médio da Ambev ao redor de 4% e que todo os dividendos foram reinvestidos na ação, o retorno anual médio é de aproximadamente 19%. Pode parecer pouco mas faz muita diferença a longo prazo quando esta remuneração é reinvestida.
O Banco Itaú foi fundado em 1943 e ao longo de quase 8 décadas a instituição financeira estabeleceu forte presença em 21 países espalhados pelas Américas, Europa, Oriente Médio Ásia. Em 2008 consolidou fusão com o Unibanco formando assim o Itaú-Unibanco, neste mesmo ano tornou-se patrocinador oficial da seleção brasileira em todas as modalidades e categorias. Em 2016 adquiriu as operações de varejo do Citibank no Brasil e atualmente, é referência em transformação digital, com investimentos significativos em inovação, plataformas digitais e serviços bancários para empresas e indivíduos. Segue abaixo o resumo da performance do Itaú neste início de século:
- Assim como observado no caso da Ambev, o preço da ação e o lucro da empresa evoluem no mesmo sentido. O preço pode em algum momento se movimentar em direção contrária ao lucro da empresa, mas tende sempre a corrigir a rota e acompanhar o desempenho da empresa.
- Na recessão econômica brasileira de 2014 a 2016, considerada a pior recessão da história2, o lucro do Itaú saltou de aproximadamente R$ 16 bilhões para R$ 26 bilhões que equivale a um crescimento de 57% no período. O preço das ações ficou praticamente estagnado durante este tempo devido a maior cautela dos compradores, para em seguida voltarem a se valorizar suportadas no crescimento consistente dos lucros.
- Em 2000 as ações do Itaú (ITUB3) estavam cotadas a R$ 2,25. Em 30/12/2024 as ações eram negociadas a R$ 27,08. A ação de Itaú neste período obteve um retorno de 1.104% no período. Investindo R$ 1.000 a 2,25 e mantendo o recurso aplicado durante os anos seguintes, teríamos um capital hoje de R$ 12.036, equivalente a um retorno anual de 10,46%. Incluindo a remuneração média de dividendos de 3,5% ao ano, o retorno com o investimento alcançaria algo em torno de 14% anual. Em caso de reinvestimento destes dividendos, o investidor poderia se aproveitar dos efeitos da capitalização composta e obter retornos exponenciais em Itaú1.
Por último a Apple que dispensa apresentações. Fundada em 1976 na California, a empresa se tornou referência mundial na projeção e comercialização de produtos eletrônicos. Entre os seus produtos mais conhecidos estão os smartphones (Iphone), Tablets (Ipad), PCs (Macintosh), Apple Watch e AirPods. O Iphone representa boa parte da receita total da Apple que oferece ainda uma variedade de serviços como Apple Music, ICloud, Apple Care, Apple TV, Apple Card entre outros que provavelmente você já ouviu falar. Em agosto de 2018 a Apple atingiu a impressionante marca de 1 trilhão de dólares em valor de mercado, valor superior a soma de todas as empresas listadas na B3.3 Segue abaixo o resumo da performance da Apple neste início de século:
- Assim como observado nos dois exemplos anteriores, o preço da ação e lucro da empresa no longo prazo caminham na mesma direção.
- Em 2000 as ações da Apple estavam cotadas a US$0,92. Em 30/12/2024 as ações eram negociadas ao redor de US$ 255,59. Quem comprou ações da Apple em 2000 e carregou nestas datas, obteve um retorno de 27.682% no período. Investindo US$100 a 0,92 e mantendo o recurso aplicado durante os anos seguintes, teria um capital hoje de US$ 27.782, equivalente a um retorno anual em dólar de 51,08%!
Apesar da recessão econômica brasileira não impactar a Apple, ela foi mantida no gráfico para inserir um conceito que exploraremos em outro artigo, sobre os benefícios da diversificação de investimentos4. Neste caso o simples fato de estar comprado em Apple confere ao investidor, em tempos de crise, a proteção do dólar (que tende a se valorizar frente ao real) e da economia norte americana e global.
No exemplo anterior, o capital de US$100 investido resultou no valor final de US$ 27.782. Considerando o câmbio de 03/01/2000 (1 dólar = 1,8 reais), o investidor desembolsou R$180. Em 30/12/24 o investidor possuiria R$ 50.007 se o câmbio se mantivesse igual. Entretanto como o dólar se valorizou frente ao real em 30/12/24 (1 dólar = 6,18 reais), o investidor possui ainda R$ 121.683 de ganho de capital adicional devido a sua proteção em dólar. Somando o ganho de capital R$ 121.683 a valorização da ação R$ 49.827 temos o valor total atualizado do investimento de R$ 171.510.
Note que Itaú, Ambev e Apple se destacam por atuarem em seus respectivos mercados e indústrias por longos períodos, sendo capazes de acompanhar a mudança do mundo e dos mercados consumidores, superando diversas crises que impactam direta ou indiretamente os seus negócios e entregando produtos e serviços que satisfazem o seu cliente final e geram alto retorno aos seus acionistas.
Expertise e vantagem competitiva
Não existe garantia de que essas três empresas citadas como exemplo vão continuar existindo ou operando com tamanha presença e lucratividade nos próximos anos ou décadas, entretanto, a premissa aqui é a de que se uma empresa consegue manter um histórico de sucesso durante longos períodos, ela possui uma expertise e uma vantagem competitiva que nos permite esperar que isso se repita nos anos seguintes.
Respondendo à pergunta deste artigo, quando o investidor decide se tornar sócio de uma empresa forte, ele passa a ter um pé na economia real e produtiva, através de empresas consolidadas com gestão profissional de seus recursos e com histórico comprovado de sucesso e lucratividade ao longo do tempo, se beneficiando, proporcionalmente a sua participação, do resultado destas empresas, seja através do ganho de capital e/ou renda de dividendos.
É verdade que existem fortes oscilações nos preços das ações e que isso pode impactar no curto prazo o patrimônio do investidor. Entretanto, o mercado de ações não é um cassino como algumas pessoas ainda imaginam, e a melhor maneira de se beneficiar dele é através do tempo (longo prazo), paciência e disciplina. Praticando esses pilares, o investidor poderá alcançar a independência financeira, obter aposentadoria superior ao INSS e se aproveitar das vantagens da capitalização composta e da renda com dividendos.
(Todas as ações mencionadas neste artigo são utilizadas com propósito educacional, não havendo nenhuma recomendação direta, indireta ou intencional de compra ou venda de papéis)
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