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Tudo o que você precisa saber antes de investir em Bancos.

por | 17/03/24 | 0 Comentários

Por que ter um banco em carteira

Se o dinheiro é o sangue da economia, então os bancos são o coração que mantém esse sangue em circulação. Em sua forma mais básica, os bancos colocam pessoas com dinheiro em contato com pessoas que precisam de dinheiro (tomadores de empréstimos).

Lógico que é mais complexo do que isto e a ideia aqui é trazer apenas alguns pontos importantes que você precisa minimamente ter conhecimento para investir com maior qualidade neste setor.

Vamos ao primeiro ponto:

Como os bancos ganham dinheiro

Um banco não é tão simples como uma varejista que, por exemplo, compra um bem por R$ 80 e vende por R$ 100, obtendo uma margem. Banco normalmente possui alto endividamento, e é um negócio de natureza bastante alavancada.

Em sua essência, um banco pega dinheiro a uma determinada taxa e empresta a uma taxa superior. A diferença se chama margem financeira. Um banco pode se financiar oferecendo depósito a vista (ex: conta corrente) ou depósito a prazo (ex: CDBs). Imagine que um cliente deixa um dinheiro remunerado a 10% e o banco empresta esse dinheiro a 12%. Essa diferença é a receita do banco, conhecida também como spread.

Mas se a atividade de um banco é tão simples, ou seja, pega dinheiro aqui e empresta ali, por que muitos bancos quebram? Emprestar dinheiro parece simples, mas a parte difícil é receber de volta. É preciso ter cuidado para não emprestar para quem não vai pagar.

Por isso, os bancos precisam ter um bom sistema para avaliar os riscos de cada empréstimo. Se esse sistema falhar o banco pode ter muitos problemas, e se não tomar o cuidado necessário o banco pode quebrar. E isso nos leva ao segundo ponto:

O que é gestão de risco

O banco sabe emprestar dinheiro? Se uma pessoa não paga um banco, ele vai ter prejuízo. Por isso é importante que o banco saiba emprestar dinheiro. Quando um cliente não paga, se diz que este cliente ficou inadimplente. E essa inadimplência é o que você precisa analizar muito bem para conseguir determinar a saúde financeira de um banco.

E para entender a inadimplência de um banco, é importante compreender a qualidade do crédito que o banco oferta, para quem empresta e qual a probabilidade de receber esse pagamento.

Vamos imaginar que um cliente tomou uma quantia emprestada e não pagou ao longo de dez meses. O banco neste caso tem a opção de dar baixa neste ativo (conhecido como dar write-off, em bom português “perda total”), e considerar que nunca mais ele vai receber. Olhar somente a inadimplência não é o mais indicado e por isso é importante entender a PDD.

PDD – Provisão para devedores duvidosos

Um indicador importante para analisar além da inadimplência é a famosa PDD (provisão para devedores duvidosos). Inadimplência e PDD são coisas distintas; Inadimplência é tudo que acontece na vida real de um banco. Se ele emprestou R$ 1.000 e cem dias depois o banco não recebeu, provavelmente ele perdeu esse dinheiro.

Para todo crédito que o banco concede, ele precisa provisionar um percentual de perda. Alguns bancos podem provisionar 100% do que foi emprestado, outros bancos provisionam 50%. O percentual varia em cada caso, sempre seguindo regras e critérios.

Imagine que um banco emprestou R$ 100 para uma pessoa. Se no primeiro mês vencido ele não receber esse dinheiro, o banco vai provisionar, digamos, 50% de perda. Se no segundo mês o cliente não pagou, ele vai provisionar 70% do valor. Deu seis meses e o dinheiro não foi recebido, aí ele pode dar write-off no empréstimo e assumir o prejuízo.

Portfólio de crédito

Se você ainda não percebeu, o fator determinante da situação de crédito de um banco é a composição do seu portfólio de crédito. Todo empréstimo possui um nível diferente de risco. Alguns tipos de empréstimos possuem um maior risco de crédito que outros.

Por exemplo, empréstimos ao setor de construção possuem um risco de perda maior comparado a empréstimos ao setor de energia devido a o histórico de previsibilidade de receita e estabilidade. Por outro lado, empréstimos para a construção são mais arriscados devido á incerteza do sucesso do empreendimento.

Liquidez de um banco

Imagine que uma pessoa deixa dinheiro no banco em forma de depósito à vista ou CDB. Isso se chama captação. Com esta captação, o banco empresta para uma pessoa física ou uma empresa que compra um imóvel em vinte anos. Neste caso o Banco trava a sua remuneração em vinte anos, mas o cliente que emprestou o dinheiro em conta corrente pode resgatar o dinheiro hoje, amanhã ou semana que vem. Se todo mundo resolver resgatar o dinheiro ao mesmo tempo, a instituição corre o risco de não conseguir devolver o dinheiro depositado para os seus clientes. O Sylicon Valley Bank (SVB), nos EUA, quebrou ano passado justamente por conta disso. Houve uma corrida bancária e o SVB não conseguiu honrar com os depósitos em conta.

A sacada aqui é a seguinte: O banco pode dominar a arte de conceder crédito, com inadimplência muito bem controlada, mas se ele não casar bem o tempo do ativo (empréstimos) com o tempo do passivo (depósitos) que é o que o mercado chama de ALM (Asset & Liability Management, em bom português, gestão de ativos e passivos), ele vai quebrar, independente da qualidade dos ativos dele.

Resumindo, se o banco faz um empréstimo de cinco anos, é importante que ele tenha um passivo casado no mesmo período para lastrear essa operação.

Estrutura de capital e Índice de Basiléia

Por definição, os bancos são alavancados. Imagine que um banco possui R$ 100 milhões em ativos e R$ 10 milhões em patrimônio líquido. Se, por algum motivo, esses ativos sofrerem uma correção negativa de 10%, ou seja, R$ 10 milhões, o patrimônio líquido se reduzirá a zero, e o banco precisará realizar uma nova captação ou chamada de capital.

Nesse contexto, entra em cena o Índice de Basiléia, criado em 1988 na Suíça, que estabelece um percentual mínimo de patrimônio que os bancos devem possuir em relação aos seus ativos ponderados pelo risco. Quanto maior esse índice, melhor é a situação do banco.

No Brasil, esse índice é fixado em 8% e é determinado pelo Banco Central. Para fins de comparação, no quarto trimestre de 2023, o Bradesco apresentou um Índice de Basiléia (nível I) de 13,2%, Itaú 15,2% e Banco do Brasil 13,91%.

Modelo de negócio

Ao analisar o modelo de negócio de um banco, é crucial identificar se trata-se de uma instituição tradicional, com agências físicas, ou se é um banco digital, operando exclusivamente por canais online. A estrutura de custos desses bancos varia significativamente, sendo geralmente mais elevada para aqueles com agências físicas.

Tomemos o Bradesco como exemplo, que mantém cerca de 4.500 agências físicas, em contraste com o Nubank, que atende seus clientes exclusivamente por meio do canal digital.

Cada banco tem sua própria segmentação de mercado e áreas de especialização. Por exemplo, o Itaú é conhecido por sua eficiência no atendimento à classe alta e na concessão de crédito. O Bradesco se destaca no setor de seguros, enquanto o Banco do Brasil possui uma forte presença no agronegócio e a Caixa Econômica Federal em crédito imobiliário.

Outros exemplos notáveis incluem o Banco ABC, direcionado a médias e grandes corporações, e o BTG, que se destaca pela atuação sólida como banco de investimentos. Embora compartilhem uma base comum, cada um se distingue por meio dessas áreas de atuação específicas.

Em resumo, a análise do modelo de negócio de um banco não apenas considera sua estrutura física ou digital, mas também sua especialização em segmentos de mercado específicos.

Qual é o valuation de um banco

Ao ponderar sobre a decisão de investir, é prudente analisar alguns indicadores, entre eles o ROE. Se um banco tem um ROE de 20%, provavelmente é um banco muito bom. Se o ROE orbita entre 5% e 10%, certamente o banco está com performance ruim, emprestando muito dinheiro sem receber de volta, com gestão de risco aquém do ideal entre outros problemas de estrutura e eficiência que podem justificar a baixa performance, como por exemplo o que vem ocorrendo com o Bradesco nos últimos anos (confira aqui).

Já um Banco que cresce com um ROE elevado, provavelmente é um negócio que vale o estudo e pode fazer sentido pagar um pouco mais caro por ele. Lembre-se: o que tem qualidade não é barato. É assim em todas as esferas da vida; um bom profissional custa caro, um bom carro custa caro, um bom médico custa caro. O bom senso vale para não pagar 500 vezes mais do que vale, mas é importante lembrar que qualidade tem seu preço.

Além do ROE, é importante observar a margem financeira que é quanto que o Banco ganha emprestando dinheiro. Se ele tiver uma margem financeira boa, provavelmente terá um ROE elevado.

Dividend Yield – Quanto os bancos vão pagar para os seus acionistas. Os investidores gostam muito de olhar esse indicador, afinal é a fatia do lucro que o banco vai compartlhar com seus sócios.

Por fim, o Fluxo de Caixa Descontado oferece uma perspectiva a longo prazo, calculando quanto o banco gerará em dividendos ao longo dos anos até a perpetuidade. Ao trazer esses valores ao presente e dividir pelo número de ações, é possível estimar o valor de cada ação.

Considerações finais:
Investir em bancos exige cautela e análise criteriosa. Este artigo oferece um ponto de partida para a avaliação das instituições, mas é fundamental aprofundar os conhecimentos ou buscar o apoio de profissionais qualificados para tomar decisões de investimento consistentes.

Resumo
• Por que investir em Bancos: Bancos são fundamentais, atuando como o coração da economia ao facilitar a circulação do dinheiro entre aqueles que têm e os que precisam de empréstimos.
• Como ganham dinheiro: A receita dos bancos, chamada margem financeira, deriva da diferença entre taxas de captação e empréstimo, sendo um modelo de negócio altamente alavancado.
• Gestão de Risco e Inadimplência: A qualidade da gestão de risco e o monitoramento da inadimplência são cruciais para avaliar a saúde financeira de um banco, destacando a importância de provisões para devedores duvidosos (PDD).
Liquidez e Gestão de Ativos e Passivos (ALM): O equilíbrio entre empréstimos e depósitos é vital para evitar crises de liquidez, destacando a importância da gestão eficaz dos ativos e passivos do banco.
• Índice de Basiléia e Estrutura de Capital: Bancos necessitam de índices de capital sólidos para enfrentar riscos. O índice de Basiléia, estabelecendo o mínimo de capital em relação aos ativos, é uma métrica essencial.
• Avaliação Financeira e Modelo de Negócio: Indicadores como ROE, margem financeira e dividend yield são cruciais para avaliar a saúde financeira de um banco. Além disso, a compreensão do modelo de negócio é essencial para análise.

(Todas as empresas mencionadas neste artigo são utilizadas com propósito educacional, não havendo nenhuma recomendação direta, indireta ou intencional de compra ou venda de papéis)

Bernardo Abreu

Meu nome é Bernardo Abreu, sou formado em Administração de Empresas, com MBA em Finanças Executivas pelo IBMEC e pós-graduado na Wharton University da Pennsylvania em Serviços financeiros e tecnologia. Possuo experiência internacional em multinacionais, com atuação na gestão financeira de empresas do mercado Financeiro, infraestrutura e em meios de pagamentos.

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